Mestre: as acusações contra Neil Gaiman
Denúncias de abuso psicológico e sexual surgiram há cerca de meio ano em podcasts; o autor nega
Acusações de abuso sexual contra o escritor britânico Neil Gaiman, um dos mais populares do mundo, ganharam novas evidências na New York Magazine. A reportagem reúne relatos de oito mulheres. Elas alegam que Gaiman atuou de maneira abusiva sexualmente e psicologicamente com elas. As denúncias são negadas pelo autor.
Os primeiros relatos, feitos por duas supostas vítimas, vieram à tona em julho de 2024 na série em podcast de quatro episódios Master, da Tortoise Media. Em agosto, um quinto episódio foi publicado com acusações de outras duas mulheres que assinaram um documento de confidencialidade (non-disclosure agreement) após seus relacionamentos com Gaiman. Depois, outra história com uma nova denunciante surgiu no podcast Am I Broken: Survivor Stories.
As mulheres que acusam Gaiman organizaram-se em um grupo no WhatsApp após o lançamento do podcast, buscando apoio mútuo e articulando ações para expor o caso. Várias das acusações envolvem episódios em que Gaiman teria ignorado o consentimento das vítimas em práticas sexuais consideradas abusivas.
Entre os relatos, está o de Kendra Stout, uma fã que afirma ter conhecido Gaiman em 2003, quando tinha 18 anos. Segundo Stout, o autor teria praticado sadomasoquismo de forma não consensual durante um encontro na Flórida e sem seguir as práticas de segurança do chamado BDSM (sigla para bondage, disciplina, dominação, submissão, sadismo e masoquismo).
Scarlett Pavlovich, outra acusadora, relata episódios de abusos similares. Ela trabalhou como babá do filho de Gaiman e Amanda Palmer, então esposa do autor, e foi obrigada a fazer sexo anal e lamber fezes.
As vítimas coincidem em relatar que Gaiman pedia para ser chamado de "mestre" (master, em inglês) e exigia que um documento de confidencialidade fosse firmado. Os perfis são similares: mulheres mais jovens, impressionadas por terem a atenção da celebridade.
Meio ano depois de as denúncias virem à tona, Gaiman publicou na semana passada um texto em seu blog oficial, negando de maneira geral as acusações e afirmando que todas as relações foram consensuais. Porém, ele não faz referência a assuntos específicos descritos nas reportagens, nem concedeu uma entrevista sobre o assunto.
Gaiman, 64 anos, é um dos autores mais populares de fantasia. É autor de obras como Coraline e Sandman, ambas adaptadas para o cinema e streaming. A segunda temporada de Sandman deve estrear neste ano na Netflix. As denúncias atingiram algumas das adaptações audiovisuais das histórias de Gaiman. A terceira temporada da adaptação de Belas maldições (Good omens) foi cancelada pela Prime Video; a adaptação de O livro do cemitério (The Graveyard Book), pela Disney, foi suspensa.
Relatos indicam que Palmer foi informada dos abusos, porém não colaborou com a polícia. Musicista, Palmer se pronunciou brevemente via Instagram pedindo privacidade.
As editoras dos livros de Gaiman não se pronunciaram sobre o caso.
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